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Na luta contra a disseminação de fake news, o jornalismo é a principal arma

  • Beatriz Monteiro
  • 10 de dez. de 2021
  • 6 min de leitura

Atualizado: 14 de fev. de 2022

Em um dos vazamentos provenientes do Facebook Pappers é constatado que 60% dos brasileiros ouvidos classificaram os “conteúdos de mensagem política” como os maiores vetores de fake news no país. Evidenciando a importância do jornalismo profissional e transparente em tempos de disseminação de ódio e informações falsas.

Reportagem: Beatriz Monteiro

Desde o fim de outubro, um consórcio de 17 veículos da imprensa teve acesso a uma série de documentos internos da Meta, novo nome da empresa Facebook, e nesses dados é possível ter acesso a uma pesquisa onde a empresa considera o Brasil como “de risco” para a disseminação de discurso de ódio e desinformação. Além disso, um estudo com usuários da plataforma constatou que 60% dos brasileiros ouvidos classificaram os “conteúdos de mensagem política” como os maiores vetores de fake news no país.

Dados da pesquisa revelam que o segundo lugar de alcance em desinformação cívica no Brasil são os artigos em sites, com 59% das aplicações, seguida pelas categorias de piadas (42%), publicidade (32%), contas falsas (25%), fraudes (23%) e mensagens de spam (20%). Para a editora assistente do JOTA info, Juliana Castro, o que faz a política ser o maior núcleo de desinformação no Brasil é a polarização política no país.

“Quanto mais se tem um ambiente de embate, mais a criação de fake news serão favorecidas. As pessoas se veem propensas a tomar um lado ou outro e nessa de tentar convencer quem tá no meio, utilizam desses artifícios. As fake news são captadas nas redes sociais, mas o outro lado da moeda é a polarização política.”

Em busca de investigar as redes sociais e suas políticas no combate às fake news, o Ministério Público Federal (MPF) abriu um inquérito em que pede explicações das redes sociais (WhatsApp, Facebook, Instagram, Twitter, Telegram e TikTok), sobre a forma como atuam para identificar, remover e prevenir a desinformação em suas plataformas. Para Juliana, essa disseminação de conteúdo falso acaba sendo rentável para a empresa, já que elas acabam lucrando com esse uso. “Qualquer tipo de mensagem de ódio encontra ressonância em uma extremidade. Esse tipo de grupo de extremos, ele interage, ele compartilha, ele dá o like, ele retweeta, então acaba sendo um negócio benéfico para as plataformas que veem a sua marca se disseminar”, disse.


Esquema coordenado sob um problema sem coordenadas

A priori, o problema das disseminações de fake news e discurso de ódio no Brasil, se restringiam a desinformação e veiculação de sites não confiáveis. Porém, cada vez mais se delimita a um esquema coordenado, que acabou perdendo o controle. Segundo apuração do site especialista em checagem de fatos, o Aos Fatos, Jair Bolsonaro desde que assumiu a presidência do país deu 4489 declarações falsas ou distorcidas. As distorções mais repetidas giram em torno de temas como: corrupção, pandemia, tratamento precoce, taxas de emprego e ataques à imprensa. O presidente em suas redes sociais, em comícios, lives, entrevistas, discursos induz a propagação dessas mentiras e o ataque de seus apoiadores a quem contrariar. No entanto, esses ataques vêm preocupando com o aumento das milícias digitais, esses grupos atuariam com métodos e objetivos estruturados de produção, divulgação, financiamento, desinformação e ataques. O ministro Alexandre de Moraes abriu um inquérito para investigar a existência de uma organização criminosa digital que atuaria para abalar a democracia. Na justificativa, o magistrado citou os filhos de Bolsonaro e a necessidade de esclarecer suspeitas de que aliados do presidente estariam usando dinheiro público para fazer ataques às instituições nas redes sociais.

Sendo um dos principais alvos dessas milícias digitais, o jornalista se encontra em um clima desfavorável, lutando contra dois desafios: a disseminação de fake news e os ataques provenientes. Se na internet os ataques e ameaças são coordenados e, muitas vezes, mascarados atrás de um perfil fake, na vida real as ameaças se tornam mais amedrontadoras. Situação evidente no cercadinho da Alvorada, onde os jornalistas passavam por situações agressivas e sofriam com a falta de segurança. Para a colunista do O Globo, Bela Megale, o abandono da cobertura na entrada do Palácio foi a escolha mais acertada dos veículos de imprensa. “O cercadinho do Bolsonaro, era um ambiente muito hostil, de ameaça, violência, de embate dos apoiadores, de ódio direcionado a mídia. Nós estávamos lá trabalhando e não para procurar briga, mas muitas vezes o presidente estimulava esse embate”, afirma.


O principal alvo são as jornalistas mulheres

O foco desses ataques é a imprensa no geral, mas quando o receptor é uma mulher a carga de agressividade é ainda mais severa. Diferente dos ataques sofridos por jornalistas homens, as ofensas direcionadas às mulheres se resumem a centenas de xingamentos machistas e integram campanhas para desqualificar seu trabalho. As críticas fogem do âmbito profissional e focam no pessoal com temas subjetivos. Segundo estudo feito pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) ao longo de 2020, as mulheres foram alvos diretos de 61 violações à liberdade de imprensa, ou 17% do total de ataques. Quando se restringe esses ataques ao âmbito digital,, 56,76% das vítimas eram jornalistas mulheres.

Esses ataques nas redes sociais podem ocorrer na forma de ameaças, perseguição, assédio, campanhas de intimidação, difamação, e até o vazamento de dados pessoais. É o que relata Bela, segundo a jornalista a maior parte dos xingamentos direcionados a ela, são de cunho machista, sexista e em sua maioria provenientes do meio digital.

“Os ataques que eu recebo quando publico uma nota que desagrada parte dos eleitores que tem um perfil mais violento, geralmente possuem cunho sexista. São me xingando de palavras ofensivas, discriminatórias e insinuando que obtive aquela nota porque tive relações sexuais com alguém. Para mim, a melhor maneira de responder esses xingamentos é com trabalho”, disse.


A principal arma contra as fake news é o jornalismo profissional

Na luta contra as fake news do dia a dia na política brasileira, as agências de checagem têm contribuído com um papel essencial e educativo para a população. A checagem de fatos é um método jornalístico do qual é possível certificar se o teor da informação foi obtida por meio de fontes confiáveis e, então, avaliar se é verdadeira, falsa ou imprecisa. O fact-checking funciona para evitar que o problema da desinformação/fake news se espalhe. No Brasil, a Agência Lupa, Aos Fatos, AFP Checamos (Agence France-Presse) e Estadão Verifica, são agências signatárias da International Fact-Checking Network (IFCN), é uma rede de verificações de notícias do mundo todo. Isso significa que essas agências são verificadas e podem ser usadas como referência na busca pela veracidade de uma informação.

Muitas agências de checagem tem fechado parceria com empresas de tecnologia para a optimização e praticidade da checagem de fatos, isso tornaria as informações verificadas mais acessíveis. O WhatsApp oferece serviço de checagem de fatos no aplicativo, no Brasil possui parcerias com as agências de checagem signatárias a IFCN no país. Além disso, o aplicativo traz canais dedicados do Fato ou Fake, que é realizado pelo G1, e também do Projeto Comprova, iniciativa realizada por jornalistas de 28 veículos brasileiros de comunicação.

A CPMI das Fake News é outra medida adotada para evitar os disparos em massa de informações falsas.. Segundo o senador Ângelo Coronel, presidente da CPMI, a ideia é sair com uma legislação para combater e criminalizar os praticantes de fake news. O repórter do O Globo, Bruno Góes, discorda desse resultado proposto pelo senador, para ele muitas pessoas compartilham informações falsas na ingenuidade e só criminalizar as pessoas não é a solução. É necessário uma postura de reeducação para que toda população possa saber se aquela notícia é verdadeira ou falsa.

A maior ferramenta contra essa disseminação em massa é o jornalismo profissional. Porém, em momentos de crise e ameaça à democracia, é necessário analisar a conduta da imprensa, como um todo, na forma como se luta contra essas fake news. Bruno Góes conta que a mudança mais importante é a abertura do diálogo com as pessoas que disseminam informações falsas.

“A imprensa tem que ser mais aberta e conversar com pessoas que discordem, se estas estiverem dispostas a conversar, elas não são alienadas e estão ali dispostas a debater e ouvir. Mostrar para essas pessoas como é o processo de apuração e o porquê dessa notícia não ser falsa. Esse é o essencial para manter a credibilidade do jornalismo, para uma boa comunicação: saber ouvir e conversar com todos os lados. Um bom jornalismo se faz com apuração, tendo conversas com as fontes, indo atrás da informação e isso fake news nenhuma tira”, afirma.


 
 
 

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